From Portugal: Ana Vicente - Post Conference Commentary

CONFERÊNCIA MUNDIAL SOBRE A ORDENAÇÃO DAS MULHERES

Post Conference Commentary
by Ana Vicente
Member of We Are Church - Portugal
October 15, 2001

Women's Ordination Worldwide (WOW)
'Now is the Time'
First International Conference
Dublin, Ireland
June 30  - July 1, 2001

A Conferência Ecuménica Mundial sobre a Ordenação das Mulheres, realizou-se em Dublin, na Irlanda, entre 29 de Junho e 1 de Julho de 2001, promovida pela Organização Mundial pela Ordenação das Mulheres, que integra uma série de movimentos a favor da reforma da Igreja Católica. O tema era : CHEGOU A HORA - CELEBRANDO O CHAMAMENTO DAS MULHERES A UM SACERDÓCIO RENOVADO NA IGREJA CATÓLICA. As e os participantes totalizaram 370, vindos de 26 países, dos quais 15% eram do sexo masculino. Havia cerca de 30 religiosas e alguns sacerdotes. Estiveram presentes duas portuguesas do Movimento Internacional 'Nós Somos Igreja', Maria João Sande Lemos e Ana Vicente.

As conferências principais, seguidas de debate, foram pronunciadas por Mairéad Corrigan-Maguire, católica de Belfast, Irlanda do Norte, Prémio Nobel da Paz; Rose Hudson-Wilkin, inglesa, pastora anglicana em duas paróquias de Londres; Joan Chittister, norte-americana, teóloga e religiosa beneditina; e John Wijngaards, holandês, padre, teólogo e organizador do sítio da internet sobre a ordenação das mulheres na Igreja Católica www.womenpriests.org Realizou-se também uma mesa-redonda com participantes da África do Sul, México, Colómbia, Uganda, Japão e Hungria. No final da Conferência foram aprovadas as Resoluções que adiante se apresentam.

Mairéad Corrigan-Maguire afirmou que a posição do Vaticano sobre a ordenação das mulheres «é desumanizante, desmoralizante e é uma forma de violência espiritual.» Acrescentou que «muitos católicos entendem agora que uma argumentação teológica baseada na 'biologia' torna-se ridícula.» Rose Hudson-Wilkin, casada e mãe de três filhos, deu um testemunho eloquente sobre a sua caminhada e a sua experiência de vida. Esta oradora substituiu a teóloga indiana protestante Aruna Gnanadason, do Conselho Mundial das Igrejas, que foi obrigada a desistir de falar na Conferência devido a pressões do Vaticano sobre esse Conselho, ameaçando que deixaria de integrar alguns grupos de trabalho se ela participasse. Segui-se uma excelente intervenção de Joan Chittister, beneditina há 50 anos, autora de mais de vinte livros, a qual também tinha sido intimada pela Congregação dos Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica a não participar. Contudo, 127 das 128 religiosas da sua comunidade e também a respectiva Madre Superiora, a apoiaram na decisão. Numa declaração pública, a Madre Superiora afirmou: «A minha decisão (de apoiar a participação da Irmã Joan Chittister) não deverá ser entendida como uma falta de comunhão com a Igreja. Procuro ser fiel ao papel desempenhado na Igreja no seu todo por uma tradição monástica com 1500 anos de história. A nossa tradição remonta aos Padres e às Madres do Deserto no 4º século, os quais viviam à margem da sociedade a fim de se constituírem como presença de oração e de questionamento tanto dentro da Igreja como na sociedade. As comunidades beneditinas de homens e de mulheres nunca quiseram fazer parte integrante da estrutura hierárquica e clerical da Igreja, mas colocar-se à margem desta estrutura a fim de oferecer uma voz diferente.» A conferência da Irmã Joan Chittister incidiu sobre «Um ministério ordenado para um povo sacerdotal.» Afirmou que «uma religião que prega a igualdade das mulheres mas nada faz para a concretizar nas suas estruturas corre o risco de repetir os erros teológicos que durante séculos fizeram com que a Igreja não condenasse a escravatura.» Acrescentou que a Igreja não só tinha que pregar o Evangelho mas também «não o obstruir» John Wijngaards, que publicou recentemente um livro intitulado «A Ordenação das Mulheres na Igreja», afirmou que o «desejo da ordenação das mulheres nasce no âmago da nossa fé católica enquadrada na igualdade dos homens e das mulheres no sacerdócio universal de Cristo adquirido pelo baptismo.»

Por sua vez, a religiosa católica inglesa, Myra Poole, da Congregação das Irmãs de Notre-Dame, de 68 anos de idade e 42 ao serviço da sua Ordem, que tinha presidido à comissão organizadora durante três anos, foi também intimada, uns dias antes da Conferência a não estar presente, tendo sido ameaçada pelo Vaticano de ser expulsa da Ordem. Com grande coragem e depois de muita oração e reflexão, resolveu, contudo, estar presente, de acordo com a sua consciência.

Uma semana após o final da Conferência, um porta-voz do Vaticano anunciou que nenhuma das participantes seria castigada.

Realizaram-se várias cerimónias litúrgicas durante a Conferência, sempre muito participadas e ouve diversos momentos de oração, vividos em intensa comunhão. Também houve várias reuniões das participantes que se sentiam chamadas para um sacerdócio renovado. Em alguns países já se iniciaram cursos de formação para a ordenação frequentados por mulheres.

A Conferência mereceu a atenção de muitos meios de comunicação social, entre os quais a revista 'Newsweek' que publicou duas páginas sobre a mesma.

Foi muito comentado pelas/os participantes a coincidência de, naquela altura estar a percorrer a Irlanda uma relíquia de Santa Teresa de Lisieux, que sempre desejou ser ordenada para o ministério presbiteral. A partida da relíquia para outro país realizou-se no mesmo dia do encerramento da Conferência.

Toda a documentação da Conferência, alguma da qual se encontra traduzida para diversas línguas, pode ser encontrada no seguinte sítio: www.wow2001.org ou pode ser pedida à Secção Portuguesa do Movimento Internacional 'Nós Somos Igreja', a/c do Centro de Reflexão Cristã.